terça-feira, 1 de junho de 2010

Obediência


Qual pedagogia seguir?
É tanta tendência, tanta experiência,
Tanta teoria que já li.
Olho para os rostos dos meus alunos:
Eles são gente!
Gente como eu e você
Gente. Cheios de sonhos e ilusões
Gente que quer viver.
Mesmo que talvez alguns não saibam
Que talvez a dor de uma tragédia precoce os impeça de ver
Olho bem no fundo dos seus olhos e vejo
Gente como eu e você:
Sonho, desejo, paixão, querer...

Então me pergunto:
Qual Pedagogia seguir?
E tal indagação me põe a pensar:
Que tipo de gente ajudo a formar?

Cada Pedagogia tem sua eficácia
Tudo depende do fim desejado
Na base do grito consigo silêncio
Uma fábrica de mudo capaz de gritar
Gritar, gritar... até se esgoelar
Mas a sua voz não se faz ouvir
Suas ideias não sabe exprimir.

Qual Pedagogia seguir?

Se encurto as rédeas tenho o controle
Se dou liberdade
Eles ganham o mundo, descobrem o extraordinário...
Mas sei que limite é necessário!

Qual Pedagogia seguir?
No jogo da troca
Eles fazem o “dever”
Pois quem não fizer tem “ponto” a perder.

Formar consciência é bem mais difícil
Exige tempo, paciência, desordem...
Desooooordem!!! Isso incomoda as estruturas
É bem melhor todo mundo quietinho
Sentadinho... Enfileiradinho
Sim Senhor!
Credoooo! A escola não é fábrica de robô!
Vamos ousar mais
Arriscar mais
Ler mais
Descobrir a ‘sabedoria do caos’
Criar e recriar
Buscar na realidade o extraordinário
Deixar que a criança perceba
Que ela é mais importante que a aula...

Respeito, dignidade
Isso é mais que obrigação!
Quando se lida com gente
O mundo não para
É um movimento perene
E a escola deve se mover
Deve promover!

Qual Pedagogia seguir?
A do Grito?
Da Opressão?
Viva a comercialização!?
Do Amor?
Da Autonomia?
Da Exclusão?

O dia-a-dia na escola me leva a perceber
A educação não tem receitas
Tem você
Tem você e seus alunos
Seus colegas, direção
Tem os pais
Comunidade
O traficante
O Padre
A imensidão...

O que então será?

Tudo depende do olhar
Da maneira de encarar
Da disposição.

Se a escola não apresenta esperança pra realidade
Pode cruzar os braços:
Ela comanda a educação!

Se não tenho esperança
Vou apenas obedecer
E a obediência mata a criatividade!
Abaixo a cabeça
E entro na máquina de moer
Todos seremos belas linguiças!
Todos esqueceremos que somos gente:
Eu, o aluno e você!

Nívia Amaral Mares

TEXTO PUBLICADO NO LIVRO “ FORMANDO POETAS 2” – PREFEITURA MUNICIPAL DE VILA VELHA - 2007

2 comentários:

Lambertte disse...

Quanta inteligência, você sabe usar as palavras, é sério! Pô, estou aqui pensando ... Parabéns, de coração, você é D+.
Literatura é um de seus pontos forte. Eu não sei escrever em meio a tantas palavras bem colocadas, mas vale este como comentário. Parabéns! Continue assim, sempre para melhor. BjO. ah! E foi um prazer ENORME lhe conhecer pessoalmente.

Jefferson Lara disse...

Bravoooo!!!