segunda-feira, 3 de junho de 2013

SIMPLICIDADE



Hoje quero ser menos
Ter menos
Não quero brilhar
Quero a semi-transparência
Quero cozinhar
Limpar a casa, organizar armários
Cuidar das flores
Quero ler e escrever poesias
Sem a intenção de publicar
Quero estudar
Pelo simples prazer de aprender
Quero ter amigos
Pelo prazer da companhia
Quero caminhar
Pra soar, pra lavar a alma
Quero dinheiro
Para comer,  vestir,  morar,  cuidar da saúde e dar presentes
Quero viver bem
No avesso das urgências cotidianas
Quero acordar mais cedo
Para fazer tudo bem devagar
E não ter que sair correndo
Quero fazer uma coisa de casa vez
E ficar à toa de vez em quando
Quero rezar
Como quem tem com Deus cumplicidade
Não quero ser importante
Os importantes têm agenda muito cheia e muitos problemas para resolver
Em minha semi-transparência
Quero ser apenas presença
Acessível, disponível
Quero ser alguém que pode errar
Cheia de dúvidas e fragilidades
Quero namorar
Sem fazer projeções
Acolher erros e imperfeições
E por os meus à mostra
Quero chorar
Diante de quem quer que seja
Até mesmo diante de mim mesma
Quero assumir minha verdade
Minha alma pede por simplicidade.

Nívia Amaral Mares
10/05/2013

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

De mim não abro mão


Abrir mão do meu maior desejo
Não desejo
Mas preciso
Será certo?
Sinto que é esse o caminho da minha libertação
Embora não queira...
Tenho medo de não ser inteira
De abandonar metade de mim
Abrir mão do meu maior desejo?
Não me vejo
Não desejo
Será que preciso?
Será isso libertação?
Me libertar do que é meu
É abandonar meu próprio eu
Abrir mão do meu maior desejo?
Não... Não...
Isso seria me despersonificar!
Não preciso me libertar,
Preciso me assumir!
Assumir que desejo!
Assumir que sou eu!
E que de mim, não...
Não abro mão!

Dilema diante do Espelho


Somos um novo ser a cada dia
Melhor ou pior?
Podemos escolher
É espantoso, mas também enriquecedor não se reconhecer
Forra o espelho,
troca a moldura
Limpa com flanela
Esconda ou pendura...
Nada adianta, o dilema continua
És novo meu amigo!
És novo a cada dia!
Aproveita o choro e chora, aproveita o riso e ria...
Seja tudo nessa grande aventura que é a vida...
Mas permita a Deus ser seu guia...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Erosão


Não vou compactuar com hipocrisia
Não vou me render
Acredito! Acredito! Acredito!
E isso independe de você.
Meu mundo não se faz sobre mentiras
Futilidades e lixos
É erguido em outro tipo de solo
Com outra formação
Diferente das áreas de risco
Que ao primeiro sinal chuva
Desmoronam em erosão
(em ilusão)...

Sob o embalo do seu Tum-tum


Quero um abraço
que acabe com a procura
Um abraço onde eu tenha paz
e me sinta segura
Quero um abraço de eternidade
Um abraço que complete o meu eu/metade
Um abraço entre braços
Com peito que faz Tum-tum
Quero um abraço daqueles braços
Que não são meros “mais um” ...
Meu lugar
Minha Canaã
Destino de uma vida
Caminho traçado por Deus...
Quero os braços
daquele que só quer os meus
Quero encostar minha cabeça num peito aberto e nu
e adormecer sonhando
sob o embalo do seu Tum-tum...

domingo, 20 de junho de 2010

Poesia teclada


Nívia Feliz! diz:
Amigo poeta o que acontece a ti?
Tão mórbida linguagem
O sangue respinga em mim...

uesley diz:
Sou ainda cultivador das flores
porém padeço em seus canteiros com as injustiças lançadas a mim.

Nívia Feliz! diz:
Mas as flores existem
e cheiram...

uesley diz:
Concordo, mas o sangue que os espinhos me arrancam respingam também em mim...

Nívia Feliz! diz:
Cuidado aos espinhos, eles existem... Estão aí
É impossível vez ou outra não se ferir...
Mas repito: As flores existem!
Enfeitam o jardim...

uesley diz:
Contudo ainda insisto em dizer que no jardim,
os canteiros são covas, destinadas a mim.
Sinal disso será em minha morte na qual milhares delas estarão a me cobrir.

Nívia Feliz! diz:
O que acontece a sua alma, amigo poeta?
Pq presenteia a morte com a sua poesia?

uesley diz:
Porque só agora entendi o verdadeiro valor poético que só o alcança quando chega ao seu fim.

Nívia Feliz! diz:
O fim? Mas o que é o fim?
A vida se renova a cada aurora...
É uma festa de sons, cheiros, cores, olhares...
A poesia tem valor na vida sim!
Ela é como a aurora... Anúncio de vida!
Mesmo que todos durmam e nem a vejam... ela traz vida à vida...

uesley diz:
O começo da glória alcançada por amargurado poeta
mas enxergo a minha nova meta, amada poetisa, que procura trazer a esta sufocada alma um pouco de sua brisa.
brisa que lova vai e volta jamais.
digo logo lova vês como já vem mais tais leves palavras vês tu me afundando e um mar
de larvas de um vulcão furioso de sentimentos hostis,
digo vos sois alma triste mas um poeta feliz.

Nívia Feliz! diz:
Amigo poeta, feliz ou amargurado
Sabes que sempre estarei ao seu lado
Meu peito é um jardim
convivo com espinhos e com larvas que querem o destruir
Mas não desisto de cultivá-lo
Pois assim as borboletas virão a mim
Terei flores o ano inteiro...
E não servem só pra mim
Sempre que estiveres amargurado, triste, injustiçado
Venha colher flores em mim...

uesley diz:
Grato bela Flor, por singelas palavras
torço que um dia possa me transformar em uma linda e rara borboleta,
mas neste momento só me enquadro entre as destruidoras larvas.
já fui homem, hoje verme me tornei e junto a eles outras plantas comerei...

Nívia Feliz! diz:
Esse é seu momento larva
Aproveite por inteiro
Sei que voltará voando
Imponente entre canteiros...

uesley diz:
Mas espero que a alegria vença ao desespero que me assola
que cresce o mais ítimo sentimento da história da existência humana
que veja a beleza mesmo nas coisas profanas
para que um dia se metamorfoseie em esperança
mas para que isso aconteça é preciso sentir o amargor da lança
dos seres energúmenos que me cercam
com suas injúrias e palavras vis,
enchem meus ouvidos com seus utópicos discursos,
mas no fundo são cães sarnentos, vazias mentes, mentindo para si mesmos...
vivo aqui angustiado perambulando entre eles...

Nívia Feliz! diz:
Dorme em paz, nobre poeta
Sonhe com as flores que estou a ofertar
Acorde amanhã com um jardim inteiro
e não meça galanteio
Ao, as mais belas flores, aos energúmenos ofertar
Boa noite!

uesley diz:
Obrigado pelas palavras, sutil poetisa que me oferta flores
sejam elas para me perfumar ou, simplesmente para enfeite de minha tumba,
caso não venha mais acordar.
Boa Noite!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Obediência


Qual pedagogia seguir?
É tanta tendência, tanta experiência,
Tanta teoria que já li.
Olho para os rostos dos meus alunos:
Eles são gente!
Gente como eu e você
Gente. Cheios de sonhos e ilusões
Gente que quer viver.
Mesmo que talvez alguns não saibam
Que talvez a dor de uma tragédia precoce os impeça de ver
Olho bem no fundo dos seus olhos e vejo
Gente como eu e você:
Sonho, desejo, paixão, querer...

Então me pergunto:
Qual Pedagogia seguir?
E tal indagação me põe a pensar:
Que tipo de gente ajudo a formar?

Cada Pedagogia tem sua eficácia
Tudo depende do fim desejado
Na base do grito consigo silêncio
Uma fábrica de mudo capaz de gritar
Gritar, gritar... até se esgoelar
Mas a sua voz não se faz ouvir
Suas ideias não sabe exprimir.

Qual Pedagogia seguir?

Se encurto as rédeas tenho o controle
Se dou liberdade
Eles ganham o mundo, descobrem o extraordinário...
Mas sei que limite é necessário!

Qual Pedagogia seguir?
No jogo da troca
Eles fazem o “dever”
Pois quem não fizer tem “ponto” a perder.

Formar consciência é bem mais difícil
Exige tempo, paciência, desordem...
Desooooordem!!! Isso incomoda as estruturas
É bem melhor todo mundo quietinho
Sentadinho... Enfileiradinho
Sim Senhor!
Credoooo! A escola não é fábrica de robô!
Vamos ousar mais
Arriscar mais
Ler mais
Descobrir a ‘sabedoria do caos’
Criar e recriar
Buscar na realidade o extraordinário
Deixar que a criança perceba
Que ela é mais importante que a aula...

Respeito, dignidade
Isso é mais que obrigação!
Quando se lida com gente
O mundo não para
É um movimento perene
E a escola deve se mover
Deve promover!

Qual Pedagogia seguir?
A do Grito?
Da Opressão?
Viva a comercialização!?
Do Amor?
Da Autonomia?
Da Exclusão?

O dia-a-dia na escola me leva a perceber
A educação não tem receitas
Tem você
Tem você e seus alunos
Seus colegas, direção
Tem os pais
Comunidade
O traficante
O Padre
A imensidão...

O que então será?

Tudo depende do olhar
Da maneira de encarar
Da disposição.

Se a escola não apresenta esperança pra realidade
Pode cruzar os braços:
Ela comanda a educação!

Se não tenho esperança
Vou apenas obedecer
E a obediência mata a criatividade!
Abaixo a cabeça
E entro na máquina de moer
Todos seremos belas linguiças!
Todos esqueceremos que somos gente:
Eu, o aluno e você!

Nívia Amaral Mares

TEXTO PUBLICADO NO LIVRO “ FORMANDO POETAS 2” – PREFEITURA MUNICIPAL DE VILA VELHA - 2007