domingo, 20 de junho de 2010

Poesia teclada


Nívia Feliz! diz:
Amigo poeta o que acontece a ti?
Tão mórbida linguagem
O sangue respinga em mim...

uesley diz:
Sou ainda cultivador das flores
porém padeço em seus canteiros com as injustiças lançadas a mim.

Nívia Feliz! diz:
Mas as flores existem
e cheiram...

uesley diz:
Concordo, mas o sangue que os espinhos me arrancam respingam também em mim...

Nívia Feliz! diz:
Cuidado aos espinhos, eles existem... Estão aí
É impossível vez ou outra não se ferir...
Mas repito: As flores existem!
Enfeitam o jardim...

uesley diz:
Contudo ainda insisto em dizer que no jardim,
os canteiros são covas, destinadas a mim.
Sinal disso será em minha morte na qual milhares delas estarão a me cobrir.

Nívia Feliz! diz:
O que acontece a sua alma, amigo poeta?
Pq presenteia a morte com a sua poesia?

uesley diz:
Porque só agora entendi o verdadeiro valor poético que só o alcança quando chega ao seu fim.

Nívia Feliz! diz:
O fim? Mas o que é o fim?
A vida se renova a cada aurora...
É uma festa de sons, cheiros, cores, olhares...
A poesia tem valor na vida sim!
Ela é como a aurora... Anúncio de vida!
Mesmo que todos durmam e nem a vejam... ela traz vida à vida...

uesley diz:
O começo da glória alcançada por amargurado poeta
mas enxergo a minha nova meta, amada poetisa, que procura trazer a esta sufocada alma um pouco de sua brisa.
brisa que lova vai e volta jamais.
digo logo lova vês como já vem mais tais leves palavras vês tu me afundando e um mar
de larvas de um vulcão furioso de sentimentos hostis,
digo vos sois alma triste mas um poeta feliz.

Nívia Feliz! diz:
Amigo poeta, feliz ou amargurado
Sabes que sempre estarei ao seu lado
Meu peito é um jardim
convivo com espinhos e com larvas que querem o destruir
Mas não desisto de cultivá-lo
Pois assim as borboletas virão a mim
Terei flores o ano inteiro...
E não servem só pra mim
Sempre que estiveres amargurado, triste, injustiçado
Venha colher flores em mim...

uesley diz:
Grato bela Flor, por singelas palavras
torço que um dia possa me transformar em uma linda e rara borboleta,
mas neste momento só me enquadro entre as destruidoras larvas.
já fui homem, hoje verme me tornei e junto a eles outras plantas comerei...

Nívia Feliz! diz:
Esse é seu momento larva
Aproveite por inteiro
Sei que voltará voando
Imponente entre canteiros...

uesley diz:
Mas espero que a alegria vença ao desespero que me assola
que cresce o mais ítimo sentimento da história da existência humana
que veja a beleza mesmo nas coisas profanas
para que um dia se metamorfoseie em esperança
mas para que isso aconteça é preciso sentir o amargor da lança
dos seres energúmenos que me cercam
com suas injúrias e palavras vis,
enchem meus ouvidos com seus utópicos discursos,
mas no fundo são cães sarnentos, vazias mentes, mentindo para si mesmos...
vivo aqui angustiado perambulando entre eles...

Nívia Feliz! diz:
Dorme em paz, nobre poeta
Sonhe com as flores que estou a ofertar
Acorde amanhã com um jardim inteiro
e não meça galanteio
Ao, as mais belas flores, aos energúmenos ofertar
Boa noite!

uesley diz:
Obrigado pelas palavras, sutil poetisa que me oferta flores
sejam elas para me perfumar ou, simplesmente para enfeite de minha tumba,
caso não venha mais acordar.
Boa Noite!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Obediência


Qual pedagogia seguir?
É tanta tendência, tanta experiência,
Tanta teoria que já li.
Olho para os rostos dos meus alunos:
Eles são gente!
Gente como eu e você
Gente. Cheios de sonhos e ilusões
Gente que quer viver.
Mesmo que talvez alguns não saibam
Que talvez a dor de uma tragédia precoce os impeça de ver
Olho bem no fundo dos seus olhos e vejo
Gente como eu e você:
Sonho, desejo, paixão, querer...

Então me pergunto:
Qual Pedagogia seguir?
E tal indagação me põe a pensar:
Que tipo de gente ajudo a formar?

Cada Pedagogia tem sua eficácia
Tudo depende do fim desejado
Na base do grito consigo silêncio
Uma fábrica de mudo capaz de gritar
Gritar, gritar... até se esgoelar
Mas a sua voz não se faz ouvir
Suas ideias não sabe exprimir.

Qual Pedagogia seguir?

Se encurto as rédeas tenho o controle
Se dou liberdade
Eles ganham o mundo, descobrem o extraordinário...
Mas sei que limite é necessário!

Qual Pedagogia seguir?
No jogo da troca
Eles fazem o “dever”
Pois quem não fizer tem “ponto” a perder.

Formar consciência é bem mais difícil
Exige tempo, paciência, desordem...
Desooooordem!!! Isso incomoda as estruturas
É bem melhor todo mundo quietinho
Sentadinho... Enfileiradinho
Sim Senhor!
Credoooo! A escola não é fábrica de robô!
Vamos ousar mais
Arriscar mais
Ler mais
Descobrir a ‘sabedoria do caos’
Criar e recriar
Buscar na realidade o extraordinário
Deixar que a criança perceba
Que ela é mais importante que a aula...

Respeito, dignidade
Isso é mais que obrigação!
Quando se lida com gente
O mundo não para
É um movimento perene
E a escola deve se mover
Deve promover!

Qual Pedagogia seguir?
A do Grito?
Da Opressão?
Viva a comercialização!?
Do Amor?
Da Autonomia?
Da Exclusão?

O dia-a-dia na escola me leva a perceber
A educação não tem receitas
Tem você
Tem você e seus alunos
Seus colegas, direção
Tem os pais
Comunidade
O traficante
O Padre
A imensidão...

O que então será?

Tudo depende do olhar
Da maneira de encarar
Da disposição.

Se a escola não apresenta esperança pra realidade
Pode cruzar os braços:
Ela comanda a educação!

Se não tenho esperança
Vou apenas obedecer
E a obediência mata a criatividade!
Abaixo a cabeça
E entro na máquina de moer
Todos seremos belas linguiças!
Todos esqueceremos que somos gente:
Eu, o aluno e você!

Nívia Amaral Mares

TEXTO PUBLICADO NO LIVRO “ FORMANDO POETAS 2” – PREFEITURA MUNICIPAL DE VILA VELHA - 2007